O Bairro C, situado na zona de Couros, em Guimarães, vai passar a ser alimentado só com energia verde.
A medida, que foi apresentada na conferência de abertura da “Green Week Guimarães”, na passada sexta-feira, prevê a instalação de painéis solares nos edifícios públicos num raio de dois quilómetros, bem como a criação de um grande “cinturão verde” na área circundante, com 20 quilómetros de extensão.
No âmbito deste anúncio, Joaquim Carvalho, diretor municipal de Intervenção no Território, Ambiente e Ação Climática da Câmara Municipal de Guimarães, referiu que o município espera “atrair para este projeto investidores privados, em troca de parte da energia produzida”. Refira-se que o município tem como meta tornar o Bairro C – que, em setembro, foi reconhecido como Património da Humanidade – climaticamente neutro até 2025, sendo este o primeiro passo para Guimarães vai conseguir descarbonizar todo o seu território até 2030. Neste ponto, refira-se que as ações públicas previstas no âmbito do Contrato Climático envolvem um investimento de cerca de 77 milhões de euros.
Durante a palestra inaugural, Joaquim Carvalho anunciou, também, o lançamento do Selo do Pacto Climático de Guimarães, de forma a distinguir as mais de 120 empresas que já subscreveram o documento na última conferência de ação climática realizada. Foi apresentado, igualmente, o novo site de Guimarães 2030 (www.guimaraes2030.pt), que será um importante veículo de disseminação de boas práticas e de envolvimento dos cidadãos no caminho de Guimarães rumo à neutralidade climática até 2030. Além disso, foi ainda revelada a segunda fase de workshops temáticos para o segundo semestre de 2024, versando temas como financiamentos, eficiência energética e cálculo de pegada carbónica para as empresas.
Mesa-redonda debate importância da ação local para a transição climática
A apresentação antecedeu a mesa-redonda dedicada ao tema “A importância das estratégias locais para a transição climática”, que contou com a participação de Domingos Bragança (presidente da Câmara Municipal de Guimarães), José Pimenta Machado (vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente), Gabriela Uchoa (advisor da NetZeroCities), Jorge Portugal (diretor geral da COTEC) e Bruno Veloso (vice-presidente do Conselho de Administração da ADENE). O momento contou com moderação da jornalista da RTP, Sandra Sousa.
Durante a sessão, Domingos Bragança defendeu a necessidade de “investimentos profundos e transformadores, de ciclos longos, no ambiente e na mobilidade”, reconhecendo a necessidade de “políticas nacionais, regionais e locais que resistam aos ciclos eleitorais curtos” e lembrando que “todos os partidos políticos com assento na Assembleia Municipal de Guimarães estão comprometidos com o caminho para um futuro sustentável para Guimarães”. O presidente da Câmara Municipal de Guimarães destacou ainda a importância da ciência e da inclusão da educação ambiental nos sistemas educativo, comunitário e empresarial como formas de garantir a subsistência do território para as próximas gerações.
A intervenção de José Pimenta Machado no painel recordou o trabalho da autarquia no combate à poluição do rio Ave, explorando ainda formas alternativas de melhorar a eficiência do uso da água no município. Reconheceu que Guimarães é um exemplo a nível nacional e internacional no que à descarbonização e combate às alterações climáticas diz respeito. Já Jorge Portugal destacou a evolução que as empresas nacionais têm feito com o objetivo de incluir a sustentabilidade em todos os seus processos e sublinhou a criação do Selo do Pacto Climático como forma de distinguir e valorizar as empresas e entidades que tenham o objetivo comum de promover a sustentabilidade e a descarbonização.
Gabriela Uchoa elogiou Guimarães pelo pioneirismo e pela estratégia global de sustentabilidade desenvolvida, sublinhando que “as medidas aplicadas em Guimarães estão a ser usadas como exemplo e até mesmo replicadas com sucesso em outras cidades europeias da rede NetZeroCities”. Por fim, Bruno Veloso abordou a pobreza energética, considerando que é necessário “ter em conta a componente social e do rendimento das famílias”, criando “políticas públicas para a sua erradicação em Portugal”. Concluiu a intervenção afirmando que “Guimarães tem todas as condições para ser Capital Verde Europeia em 2026”.
Destaque ainda para as presenças no evento de Francisco Gonçalves (city advisor da NetZeroCities), juntamente com Joaquim Carvalho e Dalila Sepúlveda, do município de Guimarães. Além disso, estiveram ainda representadas diversas cidades europeias, através de membros do grupo de trabalho “Áreas Verdes e Biodiversidade” da Rede Europeia Eurocities – copresidido por Guimarães, em conjunto com a cidade sueca de Estocolmo –, que participaram numa conferência sobre a resiliência hídrica nas cidades.
Milhares de pessoas visitaram a Green Week Guimarães
Organizada pelo município de Guimarães e pelo Laboratório da Paisagem, a “Green Week Guimarães” promoveu mais de 50 atividades com foco na sustentabilidade e na cultura. Pela Alameda de São Dâmaso, entre a passada sexta-feira e domingo, passaram várias centenas de milhares de pessoas.