Viver perto de um parque não chega: é a frequência com que se usa o espaço verde que faz realmente a diferença para a saúde mental e física.
Esta é uma das principais conclusões do estudo “Impacto dos espaços verdes na saúde mental e física”, apresentado em Guimarães, na presença do presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança, da presidente do Laboratório da Paisagem, Adelina Pinto, do presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, Luís Campos, e do presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado.
O trabalho, desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem, Escola de Medicina da Universidade do Minho (UMinho) e pelo Instituto Superior de Saúde (ISAVE), envolveu 501 moradores da envolvência de áreas verdes municipais e cruzou dados sobre proximidade, uso, perceção e impacto nos indicadores de saúde.
As conclusões são claras: a proximidade física aos parques não se revelou estatisticamente significativa, nem em termos de sintomas psicológicos, nem na qualidade do sono.
Por outro lado, a frequência de utilização dos parques foi identificada como fator determinante na melhoria dos níveis de ansiedade, stress e sono. A relação com a depressão, embora presente, mostra-se mediada por outras variáveis, como o rendimento ou a condição profissional.
Também no domínio da atividade física, o estudo confirma que a proximidade é importante: quanto mais longe as pessoas vivem dos parques, menos tempo dedicam por sessão à prática de atividade moderada. A regularidade no uso dos espaços verdes influencia positivamente os níveis de atividade física, sobretudo na vertente da caminhada e do esforço moderado.
Já a análise socioeconómica revela um contraste relevante: pessoas com rendimentos mais altos valorizam mais os espaços verdes, mas frequentam-nos menos. Por outro lado, quem tem menos rendimentos é quem mais usa estes espaços – uma tendência que reforça a importância de políticas públicas que promovam ativamente a sua utilização. Neste sentido, os autores do estudo sublinham que não basta construir ou conservar parques, sendo fundamental fomentar a sua utilização regular.
Pedro Morgado, da Escola de Medicina da Universidade do Minho, considera que o estudo veio reforçar uma ideia-chave para a saúde mental urbana: “A natureza só tem efeito terapêutico quando se transforma em experiência vivida, regular e ativa”. O investigador defende que “viver ao lado de um parque pode ser irrelevante se não houver envolvimento da população no seu uso”, destacando ainda a importância de medidas concretas: desde a acessibilidade e segurança até à existência de programas de atividade social e física nesses espaços, incluindo atividades escolares.
O estudo vem suportar o trabalho que Guimarães tem realizado no âmbito da estratégia verde radial, cidade que será Capital Verde Europeia em 2026. Esta estratégia prevê a construção de três cinturões verdes concêntricos: um primeiro na zona urbana e dois no exterior da cidade, com 20 e 42 quilómetros, respetivamente. “Estes cinturões de árvores vão fazer a ligação entre as zonas verdes, os parques e as ecovias, melhorando a acessibilidade, que é precisamente uma das barreiras identificadas no estudo”, explica Carlos Ribeiro, diretor-executivo do Laboratório da Paisagem. Quando estiver concluído, o anel mais externo deverá circunscrever 74% da população do concelho.
O estudo foi financiado pelo POCTEP Green Gap, um projeto apoiado pelo INTERREG Portugal-Espanha, que promove o conhecimento e a valorização das infraestruturas verdes urbanas.